Ninguém é por Acaso: Eu passava anos da minha infância me trancando no banheiro, quando ficava chateada. Queria que meus pais e irmãos notassem que havia algo errado e fossem me salvar. Nunca aconteceu. Eu gostava daquela sensação isolada e sofrida no banheiro, que hoje entendo como um refúgio para meus sentimentos negativos.

Eu me trancava no banheiro desde criança, sempre que me sentia chateada ou aflita. Queria que os outros notassem que havia algo errado e fossem me ajudar. Mas nunca aconteceu. Nunca alguém bateu na porta para saber se eu estava bem. Eles nem imaginavam o que se passava ali, apenas que eu estava sozinha no banheiro.

Com o tempo, eu comecei a me trancar no banheiro para esconder meus sentimentos, em vez de mostrar. Eu desejava que meu irmão, que estava dependent de drogas desde os 15 anos, sumisse, e com ele, toda a minha raiva e tristeza.

Eu expressava meu alter ego de forma irritante e alegre, quase como se eu estivesse competindo com o monge budista Matthieu Ricard, quem foi considerado a pessoa mais feliz do mundo. Será que ele também se trancava no banheiro? Mas essa alegria exterior escondia minha dor interior.

Eu não sabia como expressar meus sentimentos de forma saudável, então eu os reprimia. E o banheiro era o lugar onde eu descobria quem eu era, o meu refúgio, a minha caverna do Platão. Lá dentro, eu crescera habilidades de sobrevivência: medo, choro e angústia. E eu gostava disso.